Raul de Souza, um dos maiores trombonistas do mundo, morre na França

Músico carioca morreu, aos 86 anos, em decorrência de um câncer de garganta neste domingo (13).

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O músico e compositor Raul de Souza, considerado um dos maiores trombonistas do mundo, morreu neste domingo (13), aos 86 anos.

“Com muita dor a família comunica o falecimento de Raul de Souza, hoje à noite, na França. Guerreiro, como sempre, lutou até o final de suas forças contra o câncer”, diz o comunicado divulgado pela família nas redes sociais.

“O nosso herói brasileiro partiu para eternidade, deixando pra todos seu maior legado, sua música. Agradecemos imensamente o apoio que todos vocês sempre manifestaram”.

Referência no improviso, jazz e samba-jazz

João José Pereira de Souza nasceu no Rio de Janeiro, em 1934, e começou a tocar ainda na adolescência. Adotou o nome artístico Raul por sugestão de Ary Barroso.

O primeiro disco que gravou foi em 1957, como integrante da banda apresentada como Turma da Gafieira.

Logo se destacou e tocou com músicos como Baden Powell, Sivuca e Sérgio Mendes. Com o pianista, gravou o LP “Você ainda não ouviu nada” e fez turnês internacionais na década de 60 como membro do grupo Bossa Rio.Ele também gravou com Airto Moreira, Milton Nascimento, George Duke, Flora Purim e Hermeto Pascoal ao longo da carreira.

Repercussão

 

Raul de Souza com os músicos que tocam no álbum 'Blue voyage' — Foto: Divulgação / Emmanuelle Nemoz

Raul de Souza com os músicos que tocam no álbum ‘Blue voyage’ — Foto Divulgação / Emmanuelle Nemoz

Músicos e admiradores lamentaram a morte de Raul nas redes sociais. João Bosco escreveu “Meus sentimentos e solidariedade à família”.

Já Marcos Valle disse “Meus respeitos à Música que Raul de Souza sempre criou, e meus sentimentos à família e amigos. Que Deus o tenha”.

“Estou muito triste em saber sobre o falecimento do mestre Raul de Souza! Raul foi um gênio. Um mestre. Uma inspiração! Descanse em paz!”, escreveu Bocato, trombonista e arranjador.

“Meus sentimentos”, foi a mensagem deixada pelo baterista Carlos Bala.

Pretinho da Serrinha, Daniel Nogueira, Rafael dos Anjos, Paulos Miklos e BNegão também lamentaram a morte de Souza.

Comunicada pela família do artista nas redes sociais, a morte de Raul de Souza aconteceu na França, país onde o trombonista residia desde o fim dos anos 1990.

Raul de Souza foi músico brasileiro com passe livre no território sem fronteiras do jazz. Um músico do mundo, respeitado no universo do jazz latino dos Estados Unidos, país onde viveu por 17 anos e onde foi consagrado na segunda metade da década de 1970.

Celebrado pela maestria e agilidade na arte da improvisação, Raul de Souza pensou de início em ser primordialmente saxofonista. Só que, de família pobre, sem dinheiro para comprar um sax, acabou exercitando a técnica e o dom com um trombone de válvula, instrumento mais adequado ao curto orçamento familiar.

Em 1966, passou a tocar trombone de vara e o resto foi história luminosa no universo da música instrumental do Brasil. História que, a rigor, começara nos anos 1950, ano em que Raul começou a tocar na banda de fábrica de Bangu, bairro da zona oeste carioca onde se criou o músico nascido em Campo Grande, na mesma zona oeste do Rio.

A estreia no mundo do disco foi em 1957, em LP gravado por Raul como integrante da banda apresentada como Turma da Gafieira. O primeiro álbum solo, À vontade mesmo, saiu em 1965, quando Raul já estava devotado ao samba-jazz, após passagem pelo Bossa Rio, grupo liderado pelo pianista fluminense Sergio Mendes.

Como Mendes, Raul de Souza logo entendeu que a melhor saída no Brasil, para músicos adeptos da bossa e do jazz, era o aeroporto. O trombonista partiu para o exterior e, a partir de 1975, já residindo nos Estados Unidos e tendo feito conexões com conterrâneos como o baterista e percussionista Airto Moreira, Raul gravou os álbuns Colors (1975), Sweet Lucy (1977), Don’t ask my neighboors (1978) e Til tomorrow comes (1979) – discos cujos títulos em inglês já denotavam o direcionamento da carreira do músico para o mercado externo do jazz latino.

Até ser abatido pelo câncer, Raul de Souza nunca deixou de tocar, fazer shows e gravar discos. O último título da obra fonográfica do artista, Plenitude, foi lançado em maio deste ano de 2021 pela gravadora Pao Records, sucedendo o álbum Curitiba 58 (2019), editado há dois anos.

Por mais que tenha corrido o mundo com a liberdade do jazz, Raul de Souza jamais esqueceu o suingue brasileiro, matéria-prima de obra dominada pelo samba com bossa. O samba com jazz. Samba que ele tocou com o instrumento que inventou, o souzabone, trombone com quatro válvulas, desenvolvido a partir do tradicional de três válvulas.

O que Raul não inventou, mas somente exercitou, foi a musicalidade espantosa e intuitiva que o fez ser consagrado entre os grandes do jazz fora do Brasil. E, por isso mesmo, o clichê é inevitável: Raul de Souza foi mesmo um dos maiores trombonistas do mundo.