A Sinfonia “Eroica” de Beethoven ontem e hoje

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A Sinfonia op. 55, em Mi bemol maior de Beethoven – a Eroica – representou uma evidente quebra com a tradição do gênero sinfônico. Para todos, mesmo aqueles que conheciam o compositor pelas suas duas primeiras sinfonias e outras peças anteriores. A dimensão temporal da sinfonia Eroica – com cerca de duas vezes a duração de uma sinfonia normal – e sua forma de abarcar mundo sonoros completamente originais, foi motivo de espanto: ao menos, é o que atestou uma crítica de sua primeira performance no dia 07 de abril de 1805, pelo correspondente em Viena do jornal alemão “Der Freymüthige”. Leiam a critica na integra:

“Alguns, especialmente amigos particulares de Beethoven, asseveram que esta sinfonia é sua obra-prima, que ela é que permite vislumbrar o verdadeiro estilo da música de alto nível, e que se por ora não agrada, é por que o público não está bastante cultivado, artisticamente, para compreender todas suas belezas. após alguns milhares de anos ela não passará incólume.  Outra facção nega haver na obra qualquer valor artístico e justifica-se vendo nela uma luta indomável pela singularidade, que falha em alcançar, no entanto, em qualquer ocasião, beleza ou verdadeira sublimidade e força. Por meio de estranhas modulações e transições violentas, por combinar os elementos mais heterogêneos… uma certa originalidade indesejável pode ser encontrada sem qualquer problema; mas não deveria o gênio proclamar-se a partir do belo e do sublime, ao invés do inusual e fantástico?  Beethoven mesmo foi capaz de provar a correção deste axioma em suas obras anteriores… seria desejável que o senhor Beethoven empregasse seu reconhecido grande talento e dar a nós obras como suas sinfonias em dó maior ou em ré maior, seu gracioso septeto em mi bemol maior, seu intelectual quinteto e outras obras como estas, facilmente encontradas em seu catálogo e que o colocaram como um dos grande compositores instrumentais de nosso tempo. Teme-se, no entanto, que se Beethoven continua em seu caminho atual, ambos, ele e o público, sofrerão. Sua música pode em breve alcançar o ponto onde ninguém encontra prazer, a não ser aqueles bem treinados nas regras e dificuldades da arte, e os demais sairão da sala de concerto com um sentimento desagradável de cansaço por terem sido atropelados por uma massa de idéias desconexas e prolixa, além do tumulto contínuo dos instrumentos. O público e o senhor Beethoven, que dirigiu a performance, não ficaram satisfeitos um com outro nesta tarde: o público por pensar que a sinfonia é muito pesada, muito longa e ele muito descortês, por não cumprimentou com a cabeça em reconhecimento aos aplausos que vinham de parte da audiência. Ao contrário, Beethoven considerou os aplausos não fortes o suficiente.”