BR – O Medo Silencioso nas Bandas e Fanfarras: A Falta de Transparência nas Entidades de Competições

Medo impera diante de erros. Como mudar esse cenário?

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Nos campeonatos estaduais e nacionais de bandas e fanfarras, promovidos por entidades que se autodenominam representativas do setor, existe um temor recorrente entre músicos, coordenadores, gestores e até as prefeituras envolvidas: o medo de falar abertamente sobre o que ocorre nos bastidores dessas competições. Esse receio, alimentado por uma cultura de retaliações, censura e perseguições, impede que se discuta publicamente a falta de transparência, a gestão questionável das verbas, os erros grosseiros nos processos e, principalmente, a ausência de uma prestação de contas eficaz por parte dessas entidades.

O Medo da Retaliação: Expulsões e Processos Jurídicos

O medo de expressar críticas a essas organizações se reflete na postura submissa de muitos envolvidos no setor. A ameaça de punições às corporações, expulsões de músicos ou coordenadores das competições e até a abertura de processos jurídicos sem qualquer base legítima são práticas frequentemente mencionadas por aqueles que ousam questionar o sistema. Em um cenário onde a verdade é muitas vezes distorcida ou silenciada, é natural que surjam questionamentos sobre o real funcionamento dessas entidades.

Bandas e fanfarras, por sua natureza, são formadas por grupos de pessoas dedicadas ao desenvolvimento cultural e artístico, que se envolvem com paixão e empenho nas competições. Contudo, muitos desses participantes sentem-se impotentes diante da falta de mecanismos que garantam a transparência e a justiça dentro dos eventos. A sensação é de que, ao apontar falhas ou irregularidades, a resposta não vem por meio de um diálogo construtivo, mas sim através de represálias que afetam a trajetória dos grupos e dos profissionais envolvidos.

A Necessidade de Transparência nas Entidades

Um dos principais pontos que precisa ser abordado é a transparência na gestão das entidades responsáveis pelas competições. Em um país onde os recursos públicos frequentemente financiam essas iniciativas, é essencial que as verbas sejam bem aplicadas, e que haja um controle público sobre sua distribuição. A prestação de contas, muitas vezes negligenciada, deve ser uma obrigação de qualquer entidade que administre campeonatos e eventos culturais de grande porte.

Atualmente, não é raro que as verbas destinadas ao financiamento das competições sejam mal explicadas ou até mesmo mal administradas. Em alguns casos, o processo de alocação de recursos para as bandas e fanfarras parece imerso em obscuridade, dificultando o acompanhamento de onde e como o dinheiro público está sendo utilizado. Isso gera desconfiança entre os envolvidos, que frequentemente se sentem à mercê de decisões arbitrárias, sem poder de contestação ou de transparência.

As entidades deveriam, ao mínimo, adotar práticas de governança corporativa que assegurem a correta alocação de recursos, a fiscalização das atividades e o acesso à informação por parte de todos os envolvidos. A criação de comissões independentes de auditoria e a divulgação regular de relatórios financeiros seriam passos importantes nesse sentido. O diálogo com os músicos, os coordenadores e as prefeituras também é essencial para garantir que as necessidades de todos os envolvidos sejam atendidas de forma justa e equilibrada.

A Inclusão de Todos no Processo Decisório

Outro ponto crucial é a necessidade de uma maior inclusão de todos os atores no processo decisório. Muitas vezes, as decisões sobre regras, critérios de julgamento e a organização dos eventos são tomadas de forma unilateral pelas entidades, sem a devida consulta aos coordenadores das bandas, aos músicos e até mesmo às prefeituras que patrocinam as competições. Esse modelo de gestão centralizada não só prejudica o bom andamento dos campeonatos, mas também mina a confiança entre os envolvidos.

Uma maior participação de todos no processo de formulação e revisão das regras e procedimentos seria uma maneira eficaz de assegurar que as necessidades de todos os setores envolvidos sejam ouvidas e atendidas. Isso também contribuiria para a construção de um ambiente mais transparente e democrático, onde as críticas e sugestões fossem valorizadas e consideradas como parte do processo de evolução das competições.

O Caminho para a Mudança

A mudança não será fácil, pois muitas das práticas que geram esse medo e a falta de transparência estão profundamente enraizadas nas estruturas das entidades. No entanto, é possível transformá-las por meio da pressão coletiva e da conscientização. A sociedade, os músicos e as prefeituras precisam exigir mais responsabilidade, mais diálogo e mais clareza em relação ao funcionamento dessas organizações.

Além disso, os próprios coordenadores e participantes das bandas e fanfarras têm um papel importante nesse processo. Precisam se unir, compartilhar suas experiências e, sempre que necessário, denunciar práticas que prejudiquem o bom funcionamento das competições e a transparência na gestão das verbas. Com a criação de fóruns de discussão, redes de apoio e canais de denúncia, é possível criar uma atmosfera de maior colaboração e transparência, onde o medo de represálias dê lugar ao empoderamento e à melhoria das condições de todos os envolvidos.

A chave para a mudança é a conscientização de que, para que as bandas e fanfarras evoluam e se fortaleçam, é necessário que as entidades responsáveis por organizar esses campeonatos se tornem mais transparentes, responsáveis e comprometidas com a verdade. Sem essa transformação, o medo e a desconfiança continuarão a ser os principais ingredientes dos eventos culturais que, na verdade, deveriam ser celebrados pela sua capacidade de unir e formar novas gerações de músicos e cidadãos.

Conclusão

A realidade das competições de bandas e fanfarras está longe de ser ideal. O medo de expor as falhas, os erros e as injustiças cometidas pelas entidades responsáveis pela organização dos campeonatos precisa ser combatido com coragem e transparência. Para isso, é essencial que as entidades adotem práticas de gestão mais claras, que incluam todos os envolvidos no processo e que se comprometam com a verdadeira prestação de contas. A mudança começa com a conscientização e a união de todos os envolvidos, para que as bandas e fanfarras possam, finalmente, ter a visibilidade e o respeito que merecem.