Realizado há mais de meio século em São Luís, o tradicional e histórico desfile estudantil no Dia da Raça foi extinto a partir de 2015, pelo governo estadual, o que arruinou o segmento de bandas e fanfarras da capital maranhense e de todo o estado. Indignados, representantes do segmento denunciam que só acumulam prejuízos e até hoje aguardam uma justificativa sobre o fim da festividade.
“As bandas se preparavam o ano inteiro para tocar e desfilar todo dia 5 de setembro, no Dia da Raça. Era o espaço, a oportunidade, de apresentações e faturamento. Era a culminância para os estudantes também participarem do Desfile Militar no Dia da Independência. De cinco a sete mil alunos oriundos de escolas municipais, estaduais e particulares desfilavam no evento. Hoje, está tudo parado, destruído. Vamos tentando sobreviver como podemos, mas é difícil. Não há valorização e nem investimentos. O governo estadual até hoje não deu uma justificativa plausível sobre o fim. Acreditamos que seja por motivos políticos e ideológicos. Passávamos a mensagem da importância do patriotismo e civismo”, explicou Sandro de Jesus dos Santos, de 45 anos, professor de música sa banda Amadeus Mozart e presidente da Federação Maranhense da
Bandas e Fanfarras.
Com o fim da festividade, setores da economia também sofreram danos financeiros. “O comércio formal, informal e a indústria de instrumentos foram afetados com a extinção do Desfile da Raça. Quando as bandas se apresentavam, lojas de tecidos, armarinhos e estabelecimentos que comercializam equipamentos musicais comemoravam, porque sempre inovávamos e era necessário comprar novos produtos. Aquecia a economia, de uma certa forma”, acrescentou Santos.
O desfile de bandas e fanfarras no Dia da Raça consolidou São Luís como uma das primeiras capitais brasileiras a realizar esse tipo de evento. “A capital do Maranhão servia de exemplo para as cidades do interior e também para outros estados. Havia preparação, foco. Tínhamos objetivo. Mas, infelizmente, foi cancelado. O pior: sem justificativa alguma”, disparou Sandro de Jesus dos Santos.
O Estado fez contato com o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria Estadual de Educação, para saber os motivos que fizeram com que o desfile estudantil no Dia da Raça fosse cancelado e se seria montada alguma estrutura para o público que for contemplar o desfile de 7 de Setembro. O órgão apenas informou que as atividades alusivas ao Dia da Raça serão realizadas nas escolas, de acordo com o planejamento pedagógico de cada centro de ensino. Frisou ainda que o desfile de 7 de Setembro é organizado tradicionalmente pelas Forças Armadas.
Cunho social
De acordo com o professor Sandro de Jesus dos Santos, os ensaios das bandas e fanfarras, para aprender a tocar os instrumentos, era uma das formas de livrar crianças e adolescentes do envolvimento com o tráfico de drogas e outros crimes. “Muitos alunos que viviam em situação de vulnerabilidade social muito grande. Viviam em um meio onde aconteciam muitos crimes. E as aulas musicais ocupavam o tempo desses estudantes. Uma atividade satisfatória, de aprendizado, e também ensinávamos que aqueles equipamentos seriam usados por outra geração, pois havia o incentivo para a formação de novos integrantes”, disse.
Atualmente, sem o ato no Anel Viário, muitas escolas passaram a realizar os desfiles no Dia da Raça individualmente nos bairros. Mas não há bandas para se apresentar em cada unidade de ensino, no mesmo dia e horário.